segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Família


Nestes últimos dias muito se tem falado de família e de “reabilitar o valor da família”.
Estou de acordo, sim. A Família é o elemento e nuclear da sociedade, fundamental no processo de sociabilização e de crescimento individual.

Mas se até aqui estou de acordo com aqueles que tão alto apregoam o “valor da família”, a discordância começa quando se faz a pergunta essêncial – mas, afina, o que é uma família? Como se constituem as famílias de hoje?

Família é muito mais que consanguinidade, é muito mais que um padrão, é muito mais do que papéis perfeitamente definidos e encaixados, é muito mais do que um matrimónio ou o que se vende nos magníficos anúncios dos automóveis familiares.

Família é afecto, é carinho, é compreensão, é aceitação. Há famílias de todos os géneros e estruturas, famílias em que se estabelecem relações de conjugalidade (seja qual for a orientação sexual) e famílias em que isso nem sequer acontece entre os seus membros.

Se no seu artigo 13.º a Constituição da República Portuguesa garante que todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei e que ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão da sua orientação sexual, o artigo 36º garante a todos o direito de constituir família e de contrair casamento em condições de plena igualdade.

Referendar o casamento entre pessoas do mesmo sexo, justamente proposto pelo Governo, é, em meu entender, inaceitável pois significaria referendar direitos já constitucionalmente consagrados. Deixemos que a Assembleia da República corrija, rapidamente, esta discriminação.

O valor central da Família deve ser a Liberdade.

A sociedade que hoje somos é uma magnífica manta de retalhos de pluralidade e diversidade. Se formos capazes de quebrar as barreiras do preconceito e aceitar o que de facto já existe, estaremos, seguramente, um passo mais perto da sociedade que queremos ser.

"Quanto mais diferente de mim alguém é, mais real me parece, porque menos depende da minha subjectividade." Fernando Pessoa

Susana Guerreiro

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