quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Carolina Beatriz Ângelo


Foi no passado dia 12 de Janeiro que foi lançada a primeira pedra do futuro Hospital Odivelas – Loures, que em boa hora foi baptizado com o nome de Carolina Beatriz Ângelo.

A importância do futuro hospital é óbvia e responde ao anseio de milhares de munícipes dos Concelhos que dele vão ser utentes e que há cerca de 30 anos aguardam pelo seu hospital. Mas não é do Hospital que hoje quero falar, mas da Mulher que lhe dá o nome, visto que é com enorme alegria que vejo este nome ser publicitado e logo através de um grande Hospital! Já era tempo de se começarem a atribuir nomes de mulheres aos equipamentos de saúde, à semelhança do que já se faz com os equipamentos de educação e outros.

Carolina Beatriz Ângelo foi a primeira cirurgiã portuguesa, o que não é coisa pouca, já que em 1904 uma mulher fazer cirurgia era no mínimo uma invulgaridade, aliás tal como ser médica. Na Saúde as mulheres só podiam aspirar ser enfermeiras! Tanto quanto julgo saber este é o primeiro, ou dos primeiros, hospital a ter o nome de uma mulher que foi médica cirurgiã.

Carolina Beatriz Ângelo não fica para a história apenas pela sua ousadia em escolher a medicina como profissão. O que verdadeiramente Carolina Beatriz Ângelo nos legou foi a sua coragem como sufragista, como activista dos direitos da mulheres e como líder dos movimento feministas, pioneiros dos movimentos de emancipação das mulheres que ao longo do Sec. XX a levaram ao patamar em que ela hoje se encontra.

Como se não bastasse o que atrás foi referido Carolina Beatriz Ângelo foi ainda a primeira mulher a votar em eleições Nacionais em Portugal e, segundo alguns, no Mundo, uma vez que nessa altura ainda nenhum País da Europa e muito menos no resto do Mundo, tinha reconhecido o direito ao sufrágio às mulheres.

Então como conseguiu Carolina Beatriz Ângelo votar? Já falei da ousadia desta mulher que não se cansava das suas causas, nem descansava nos obstáculos. Pois foi essa ousadia que levou esta mulher a reparar que a lei eleitoral então em vigor concedia o direito de voto ao chefe de família, dito assim, sem mais. Ora, como Carolina Beatriz Ângelo tinha ficado viúva em 1910, sabia ler e escrever, tinha uma filha menor a seu cargo e era do seu salário que saia todo o sustento seu, da sua filha e da sua casa, escreveu uma magistral carta ao então Ministro do Interior António José de Almeida, alegando a sua condição de chefe de família, sabendo ler e escrever e consequentemente o seu direito ao voto. Não restou a António José de Almeida senão dar-lhe razão e assim Carolina Beatriz Ângelo conquistou em 1911 o seu direito de voto nas primeira eleições da República.

Escusado será dizer que no ano seguinte a lei foi alterada e foi expressamente escrito chefe de família do sexo masculino. Mas o direito de voto de Carolina Beatriz Ângelo já tinha sido exercido, já ninguém lho tirava, assim como ninguém lhe pode tirar esse feito que quase cem anos depois aqui recordamos com um orgulho e respeito imensos.

É por isso que o seu nome no hospital é tão importante, porque desta forma o PS vai respeitando a história, vai celebrando a memória e vai contribuindo para dignificar a mulher e os seus direitos, o que não deixa de ser uma maneira de respeitar os direitos do homem.

Eduarda Barros

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